Quando um jovem ou um adulto procura uma escola que ofereça a Educação de Jovens e Adultos (EJA) esta em busca de um alimento para fortalecer sua própria auto-estima e suas possibilidades de interagir, num mundo, que transforme sua vida, desejos de conhecimentos, necessidades de mudanças e crescimento.
As expectativas que levam esses seres humanos a saírem de seus lares são muitas e, a escola, por sua vez, deve estar preparada e comprometida em oferecer um “cardápio” apetitoso nas práticas pedagógicas, com o tempero apropriado dos seus interesses e condição real de vida para esses alunos.
Freire (1996), já dizia que a escola deve proporcionar uma transformação capaz de modificar seres humanos. Pois, dessa forma, eles conseguirão transforma seus próprios interesses e ajustarem-se na sociedade em que vivem.
É preciso saber preparar o ‘olhar’ no apetitoso prato do ensinar e ter o conhecimento de quem estamos ensinando. Conhecer o aluno, sua realidade, muitas vezes, sofrida é saber decorar o ‘prato’ da educação recheado de novos rumos e práticas pedagógicas objetivas, trazendo assim, novos projetos, novas políticas ao conteúdo escolar para a realidade desses alunos e vice-versa.
Negligenciar as experiências de vida desses alunos é o mesmo que salgar o paladar das suas possibilidades humanas.
O preparo desse olhar apetitoso esta na adaptação e nos projetos pedagógicos do professor e da escola, incluindo as expectativas e a realidade vivida dos alunos, numa diferenciada metodologia de trabalho educacional.
Muitas vezes, percebemos alguns profissionais presos à falta de tempo e de impossibilidade de se atualizarem, pois para sobreviverem necessitam trabalhar varias horas semanais, sobrando pouco ou nenhum tempo para o preparo de um ‘prato’ enriquecido do nutriente principal, que é a qualidade oferecida no ensino.
As mais lindas palavras de amor de incentivo ao ensino/aprendizagem para os alunos de EJA esta no silêncio do olhar do professor capacitado e comprometido, adequando todos aos propósitos da janela da alma humana desses alunos. Pois, uma vez, o olhar apetitoso de quem não vê é um paradoxo, mas que talvez, por esta razão a consciência do profissional veja com profundidade a visão, de acordo com os alunos e, não seja deturpada com a poluição visual das suas próprias carências.
Vê-se, portanto, de modo profundo quando somos capazes de olhar apetitosamente, a outrem e as coisas sem as amarras dos condicionamentos sociais, políticos, econômicos e culturais, que tanto afastam esses alunos de seus reais objetivos e de suas reais identidades.
Por consequinte, trabalhar as práticas pedagógicas com um olhar apetitoso na sala de aula de EJA é vê, não apenas com os olhos, mas com o tato, a audição, o sentir, a emoção.
A leitura de i, do outro e do mundo é feita com maior profundidade quando intermediada pelos sentidos. Na visão pedagógica, quando falta ao professor à capacidade ocular, ele aprende a ver alem dos estereótipos sociais e humanos desses alunos, pois vê com a emoção, a alma.
Nessa perspectiva, o que falta ao olhar sobra à imaginação e, é na imaginação, portanto, que o professor vai construindo a realidade, por meio dos recursos didáticos oferecidos como referenciais dos sentidos. Todavia, o olhar atento e perspicaz liberta o individuo e o faz aprender com as historias que se configuram perdidas na relação do outro (aluno).
O olhar apetitoso nas práticas pedagógicas que são empregadas na sala de aula de EJA é o modo de contemplar a realidade desses alunos, através da visão da alma, do interior. Transpondo assim, a realidade educacional desses alunos a uma supervisão pedagógica de desafios a olhar o professor e a comunidade escolar com “olhos hermenêuticos”, a fim de interpretar e compreender as diferenças e as relações entre o professor e os alunos, a supervisão e docência, gestão educacional e a família. Somente assim, será possível um olhar apetitoso no diálogo dialético/dialógico, como um ‘prato’ apetitoso e variado no ensino/aprendizagem de EJA.
Por essa mesma razão é necessário, que o professor ao empregar certo método de ensino esteja consciente que não se trata de um simples método, mas todo um conceito teórico que sustenta essa metodologia vinculada, a uma visão de homem e de mundo, que responde ao interesse da modalidade de ensino de EJA. Fazendo assim, o professor terá um olhar mais adequado e abrangente de seu ensino e de suas escolhas didáticas.
Sabemos que, os métodos de ensino empregados numa sala de aula de EJA são, apenas um meio para atingir um fim maior: a aprendizagem desses alunos. Sendo necessário que, o professor use o modo critico e reflexivo, conhecendo os fundamentos teóricos que sustentam tal procedimento. Todavia, nenhum método será eficiente em si mesmo se o professor não estiver aberto ao diálogo/dialético com os alunos. Portanto, é necessário que o professor lance mão na relação com os seus alunos e os constituem sujeitos ativos do processo de ensino/aprendizagem. Desse modo, avaliamos a formação desses alunos já que o objetivo do aprendizado é seguir todas as propostas presentes nos projetos políticos pedagógicos de EJA, atuando na formação de cada aluno e oferecendo aos mesmos, o respeito, por parte de alguns professores para com a EJA.
Para esses alunos jovens a adultos, alguns professores não estão compromissados com o trabalho a ser aplicado na sala de aula, uma vez que, apresentam um conteúdo não muito rigoroso por cota do descrédito que estes tem com os alunos dessa modalidade de ensino. Logo, percebe-se que, ensinar na EJA é um grande desafio, onde o olhar apetitoso ao conteúdo das práticas pedagógicas tem que estar ligado ao conhecimento, que cada aluno traz para aula, independente da idade e do sexo.
A proposta deste artigo é mostrar aos professores que trabalham com a Educação de Jovens e Adultos, que é possível, sim, ensinar esses alunos utilizando para isso os projetos didáticos, ou seja, os conteúdos das extensas listagens de conteúdos que constituem os programas escolares nesse nível de escolarização. Contudo, esperamos que os professores atuantes possam também tirar proveito das idéias e sugestões apresentadas em aula.
A proposta do artigo é também mostrar uma prática diferenciada para trabalhar com um público também diferenciado, que são alunos que almejam adquirir um conhecimento mais prático e próximo as suas realidades de vida, sem perder o olhar apetitoso nas práticas pedagógicas do ensino/aprendizagem em aula.
Nesta perspectiva, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmo, e ganham significados diversos das experiências sociais dos alunos e passam práticas pedagógicas do ensino/aprendizagem em aula.
Nesta perspectiva, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmo, e ganham significados diversos das experiências sociais dos alunos e passam a meios para a ampliação de seu universo cognitivo, mediando o seu contato com a realidade de forma crítica e dinâmica.
A idéia é trabalhar, de maneira mais flexível e abrangente, deixando de lado a rigidez das sequências das listagens de conteúdos, onde o aluno consegue mais facilmente relacionar os conceitos científicos com aplicações do mundo em que vive, evitando que a prática de sala de aula se reduza a um somatório de exercícios isolados e repetitivos.
Os alunos jovens e adultos necessitam de práticas educativas distintas daquelas que um dia tiveram na escola, E, assim, acreditamos que o uso desses projetos utilizados constitua uma estratégia diferenciada de ensino para este público de alunos.
A participação dos alunos neste tipo de estratégia de ensino é fundamental; a motivação, os conhecimentos prévios, seus interesses, tudo deve ser considerado e aproveitado em todas as etapas da aprendizagem.
A EJA tem como principal referencia a pedagogia dialógica e problematizadadora de Paulo Freire (2003), Esta pedagogia propõe eu haja uma participação ativa e dinâmica do aluno trabalhador na sala de aula.
O professor inicia suas atividades em aula com uma explanação do tema e abre o debate aos alunos, onde sua função é a de problematizar as questões propostas para uma aprendizagem, através da interação dos conhecimentos científicos e populares desses alunos, onde a relação do saber do aluno com o saber cientifico deve ser viabilizado pelo professor.
É desta forma que, a EJA pode ser entendida; os alunos jovens e adultos já possuem uma bagagem de conhecimentos e, quando voltam à escola desejam obter novas informações e conceitos que se relacionam com aqueles já existentes em sua estrutura cognitiva, ocorrendo assim, uma modificação nos subsunções existentes em sua estrutura cognitiva, tornando a nova aprendizagem, então, significativa. Por isso, na EJA é imprescindível levar em conta a experiência de vida dos alunos.
Outro referencial importante para EJA é a teoria de Vygotsk (1998). Para ele, os processos mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento volitivo) tem origem em processos s sociais: o desenvolvimento cognitivo do ser humano não pode ser entendido sem referencia ao meio social.
O aluno de EJA deve conseguir captar significados e certificar-se de que os significados que capta são aqueles compartilhados socialmente para os signos em questão.
Para Vygotsky (1998), é com a interiorização de instrumentos e sistemas de signos produzidos social, históricos e culturalmente, que se dá o desenvolvimento cognitivo e o olhar apetitoso nas práticas pedagógicas em aula.
Contudo, a visão exteriorizada é reducionista, cega e incapaz de ir além do invólucro material que tanto aproxima como afasta o individuo do outro. Com esse olhar, o professor apenas toca o aluno, enquanto sujeito tátil, mas jamais lhe atinge a alma, o ser integral, a emoção, a vontade e o intelecto, se não estiver aberto e comprometido com as práticas pedagógicas que são ensinadas em aula.
Na conclusão do artigo apresentado, a autora afirmar que o direito de aprender ao longo da vida na EJA é um compromisso do Estado, da escola, dos professores, dos alunos, num ambiente democrático de trocas de experiências, estudos e fontes de elaborações de propostas apresentadas em sala de aula, garantindo sempre um olhar apetitoso desses alunos de EJA com as práticas pedagógicas empregadas e, com os motivos que levam os alunos buscarem essa educação, uns porque querem concluir o segundo grau, outros em busca de um emprego melhor, enfim, cada um tem sua história. Portanto, o artigo nos permite um olhar apetitoso e mais próximo da realidade de EJA. Uma educação que precisa ser melhorada, revista, respeitada e repaginada.
Solange Gomes da Fonseca
Referências
. FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia, São Paulo: Paz e Terra, 1996.
. HERNÁNDEZ, F. A. A organização do currículo por projetos de trabalho. 5ed. Porto alegre. V. 8 n. 30, p. 12—15, maio/jul. 2004
. LEITE, L.H.A. Pedagogia de projetos: intervenção no presente, Presença Pedagógica. Belo Horizonte. V.2, n.8, p.11—20, mar/abr. 1996
. MOREIRA, M.A. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora UNB, 1999.
. OLIVEIRA, M. K. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimentos e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação. Belo Horizonte, n. 12, p.59—73, set/dez. 1999.
. VYGOTSKY, L. A formação da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.